..::Geléia de Pérolas::..

27.2.03


Eu queria um mundo melhor. Quero. Tento. Luto. O mundo parece tão sem sentido que esta foi a forma que encontrei de lidar com isso, de dar sentido à vida, lutar para que o mundo e a vida seja melhor, para todos, tentando participar positivamente de algo que é maior do que eu.
Não sei se há vida depois da morte. Mas a vida continuará depois da minha morte, a vida dos outros. A vida no planeta. Então, se não houver nada depois da morte, e minha consciência se apagar como uma lâmpada que queima, que não tenha sido em vão a minha existência. Que eu tenha pelo menos feito algo para que os que vão chagar encontrem um mundo um pouco melhor do que o que eu encontrei.
Não sei se há um Deus cuidando de tudo. Vejo tanta desgraça por aí, miséria, fome, injustiça, guerra, estupros, chacinas. Por isso, na maior parte do tempo me parece que não tem Deus nenhum cuidando de nada. Que estamos sozinhos aqui em baixo se ferrando.
Mas vejo pessoas cuidando umas das outras. E isso muda vidas, situações, circustâncias. É nisso que eu aposto. Se houver um Deus e eu encontrá-lo depois da morte, então ele vai ser capaz de entender essa minha limitação de fé.
Se Deus existe, pode ser que ele tenha posto sobre nossos ombros a incumbência de cuidar uns dos outros. Isso também me passa pela cabeça.
Eu não sei se sou do bem. Diria que essa luta por um mundo melhor faz parte do meu lado bom. Também tenho meus defeitos, erro muito, como todos tenho um lado mau.
Acho que todo mundo tem um lado bom e um lado mau, e dentro das suas inúmeras limitações, têm mais energia em um ou outro.
Não busco a salvação da minha alma. Não gosto dessa conversa de salvação, porque os salvos se acham melhores e superiores do que os que não estão salvos. A salvação da alma é só mais uma ilusão de segurança e continuidade. As pessoas têm necessidade de ter certezas, de se sentirem seguros. Umas fazem plásticas, outras compram casa própria ou acumulam bens. Algumas tentam a fama, outras se casam. E outras buscam se sentir seguros salvando a alma e/ou adotando qualquer religião como verdade absoluta, a qual não existe.
Mas ninguém está seguro em lugar nenhum, em relação a nada. E somos pequenos demais pra entender a vida e ter certeza da continuidade dela.
Busco apenas aliviar o fardo dos outros às vezes, quando posso, porque todos temos fardos pesados, fardos recheados com a dor da existência. E a existência só fica um pouco mais leve e menos dolorida quando um carrega um pouco o fardo do outro.


posted by Rossana Fischer at 9:10 AM



25.2.03


Sábado, Fevereiro 01, 2003

Sei que vou escrever muita merda aqui. Mas quero que vocês tentem ver as coisas como eu estou vendo, agora.

Todo mundo sabe que vai morrer. Mas ninguém pensa que pode ser hoje. Você não acorda e diz: "Ah, talvez eu morra hoje". Não. É uma idéia vaga, distante. Mas nào está tão distante. Eu nunca pensei que fosse morrer agora. Mas vou. Em menos de um ano. Mas pode ser amanhã.

Essa proximidade me traz uma lucidez impressionante... Agora mesmo, na minha sala, com a casa rangendo com os sons noturnos, tudo está escuro, apenas um monitor faiscando. E eu aqui, sentado. Um maço de Marlboro me encara com insistência, como se dissesse: "Ah, você vai morrer mesmo... Que mal fará mais unzinho só?"

O gato agora levantou-se assustado. Dormia no sofá, sem ter consciência da própria mortalidade. Mas parece saber da minha. Está aqui, se enroscando em minhas pernas. Esse silêncio me incomoda. Preciso de uma música (um réquiem, ha-ha-ha). Preciso de um cigarro.



Expelido por Canceroso

10.2.03

Home