Tudo começou com uma indecisão crucial de Ballyhoo em escolher a roupa com que iria à festa. Acreditem, ela queria ir com uma blusa de “Folk Festival”. Eu lhe disse que tudo bem, mas para uma festa com um tema Type O Negative, sei lá, ia ficar muito chamativo. Após algumas experimentações ela aderiu à uma blusinha compatível ao seu sentimento relativo ao estilo da festa da nova geração de “Góticos”. Estava escrito na blusa em letras garrafais: NO. Eu, para que todos me reverenciassem por causa da minha blusa, fui com minha camisa do Joy Division – Love Will Tear Apart Us. Dobrei meus zines de poesia, uns 50, que pretendia distribuir no local e então partimos.
Chegando nas barcas, como de praxe, esqueci free-passes. Tivemos que voltar por duas quadras e meia até a casa dela. Parecia difícil ir para esta festa.
Depois de esperarmos meia hora nas barcas, pegarmos um ônibus na Praça XV (sem que a trocadora soubesse explicar onde deveríamos saltar), descermos e passarmos num bar e comprarmos dois guaranás naturais (só para disfarçar, para que Ballyhoo pudesse ir ao banheiro) e andarmos um bom pedaço até a Nautillus, conseguimos chegar. Ufa!
Lá em frente, um grupo de góticos (ou fantasiados de góticos) aguardava a abertura da casa noturna. Parecia uma convenção de vampiros de alguma história de Anne Rice. Até que me amarro no visual, mas continuo batendo na tecla de que não existe o “ser” gótico e sim o “estar” gótico. Pois considero o gótico como um estado de espírito. As pessoas que passavam pelo local ficavam ou atônitas ou com um risinho de deboche. Teve um babaquinha que até debochou perguntando quem é que havia morrido. Mas como o esperado, o pessoal ignorou, pois todos estavam a fim de diversão. Comecei a me coçar para entregar os meus poemas ali mesmo, mas Ballyhoo me vetou: “Porra, aqui na entrada? Vão ficar todos olhando pra nossa cara! Vai parecer um comício! Por que você não pega o megafone e vai do outro lado da rua anunciar?”
Ela estava envergonhada e apreensiva por mim. Concordei, mas fiquei paranóico. Teria que entregar a todos da festa um por um. Não iria conseguir largar num balcão qualquer. Queria ver todos recebendo. Imagina se alguém abandonasse um zine pelo chão? Eu ia ficar muito deprimido. Um zine meu significa um furo no dedo para colocar o grampo. Estávamos bem, até um bêbado-maluco-desdentado igual a um preto-velho cismar com a nossa cara. Putz! Tanta figura exótica no local e o cara cismou conosco! Ele começou a rir à distância olhando para nós (Hi-Hi-Hi...), que estávamos os mais discretos, Ballyhoo percebeu e se desesperou. Ele foi se aproximando e rindo sem nenhum vestígio de dentes em sua boca. E o bafo? O cara chegou perto com aquele risinho mais estranho do que se pode supor e perguntou: ”É tudo vampiro? Hi-hi-hi!”
Ballyhoo não aguentou e começou a rir. E eu? Dava gargalhadas. Imagina dois indivíduos em frente a uma boite gótica, onde todo mundo fazia cara de enterro, rindo pra cacete. Acabou que todos começaram a olhar para nós. Nem precisei distribuir meus zines para isso. E ele não parava: “O ‘Drácua’ tá aí dentro? Hi-hi-hi! Si ele fica aqui condo o sor nacê, ele vira cinza! Hi-hi-hi”.
Putz! E Ballyhoo ainda provocou: “Fala uma frase para nós colocarmos no nosso blog.”
E ele disparou: “O Drácua só gosta de muié!”
Não preciso dizer mais nada. Mentalizamos para que ele caísse fora e até que deu certo. Bem, quase certo. Tivemos que entrar para nos livrar. A boite abriu e após quase sermos barrados, ingressamos no “reduto”. Daí começou a discussão: como e quando entregar os zines de poesia? Na entrada? Na saída? Com o pessoal dançando? Ela queria que eu deixasse numa mesa ou no balcão ao lado do caixa. Imagina! Nem pensar! Ela estava morrendo de vergonha dos outros ficarem nos olhando após a divulgação. Mas eu queria entregar um por um. Ela me perguntou como eu iria fazer se meu livro chegasse a ser vendido em livrarias. Qualquer desconhecido ia poder comprar na hora que quisesse sem que eu estivesse presente. ISSO ME ENLOUQUECEU! Eu falei: “NÃO! CALA A BOCA! EU VOU VENDER UM A UM PARA CADA PESSOA!”
Tá. Distribuí numa boa, começando pelo cara do stand de produtos sadomasoquistas, que tinha cara de vampiro – com lentes e roupas medievais e tudo – que leu amarradão. Perguntou se eu queria deixar uns para ele distribuir, deixei. De repente vimos o Daniel, um amigo nosso de Aldeia Velha. Pitty, o organizador, tirou uma foto nossa com ele (para o desespero de Ballyhoo que não queria dar as caras na Internet). A festa foi seguindo o seu rumo, fui distribuindo meus poemas, rimos um bocado dos clipes góticos (Céus!), até que eu fui dar uma mijadinha. O que vi no banheiro? Quando entrei dei de cara com um carinha afeminado conversando com uma garota. É, no banheiro masculino! Tratei de me precaver, entrei no reservado e fechei a porta. Depois saí numa boa como se nada tivesse ocorrido. Ah, teve um cara que ao entrar, na hora em que eu saía, deu um pulo para fora do banheiro.
Ficamos até o sono bater, o que não demorou muito. Lá pelas 3:00 nos despedimos de Daniel e nos debandamos. Antes de sairmos o vampiro do stand perguntou se poderia levar o que sobrou dos zines para distribuir em outras festas. Pô, eu disse que sim, superfeliz. Até que minha amada Ballyhoo me lembrou na saída que eu não iria estar lá para presenciar. COMO ASSIM?
Na volta depois de comtemplarmos uma sessão de esvaziamento estomacal forçado (vômitos) de uma garota nas barcas, já em Niterói, um carinha parecido com Herbert Vianna nos abordou dizendo e apontando para minha camisa do “Joy”:” Desculpe interromper mas essa banda é a mais maravilhosa do mundo!” Enfim o reconhecimento.
Por que aqueles malditos nos olham de forma diferente?
Por que, quando estamos bem, fingem não nos ver?
Mas, quando estamos numa situação desagradável, fazem questão de penetrar em nossos olhos?
Porque nos acham fodas e queriam ser como nós, eu penso.
Porque nos sentimos mais livres do que eles. Porque rimos mais que eles. Porque rimos de nós mesmos. Porque não temos vergonha de corrigir nossos erros. Porque usamos nossas roupas. Porque nos lambuzamos. Porque confiamos uns nos outros. Porque cantamos e gritamos e piramos e dançamos. We dance. Porque sentimos as coisas. Porque somos nós mesmos.
Deve ser isso.
E hoje eu ri horrores. E eles aplaudiram com má vontade, sem olhar em nossos olhos.
São nuvens de sol e pêssegos. Sombreadas pelos galhos negros da tarde. Mergulham de azuis. E não saberemos, senão pelas texturas do mármore, pela estreiteza do caule, aquelas que estão próximas, as que reluzem. Amarelas no intenso da lâmpada. Aspen Leaves de Daniel Bayer. Porque não se deixam mostrar nas extensões do mundo, verticais. Vêm circulares ao homem, em seus brilhos de estrela. E é dali que surgem ao olhar, que lhe pertencem. Apreendem-no - limites do corpo - em esferas. Como a simular distâncias, sopradas no interior das folhas curvas. Espirais. E são elas o ato de ler e este retorno. E o encontro das farpas e das frutas.
Minha mãe me ensinou muitas coisas. Mas aprendi muito poucas. Entre elas:
- Nunca tenha pena de homem
- Seja maliciosa, nunca vulgar
- Nunca venda seu quarto-e-sala. Se um dia acontecer de você não ter dinheiro nenhum, você junta uns trocados, compra uma bisnaga e vai pra debaixo do seu teto.
- Se eu fosse você, eu me casaria no cartório, depois passava num botequim, pra tomar uma média com pão e manteiga e viajava.
Sabe o que é confusão emocional? É ter vontades conflitantes. Querer uma coisa e outra que impede a primeira. É ficar na dúvida entre 100 caminhos e, após escolher um, ficar com remorso dos outros 99. É fazer alguma coisa que você sabe que é errado para só se recriminar depois. Ou fazer algo que se acha certo para pensar duas vezes depois.
Existe inconsciente ou Sartre estava certo? Somente através da consciência que fazemos as coisas? A maior angústia do homem é saber que é consciente. É ter em sua liberdade (livre-arbítrio) sua maior prisão.
Argh! Essas aulas de psicologia e livros de filosofia estão me matando. Eu costumava ser um cara mais agradável antes disso.
Bom dia, povo. Acordei. O dia parece bonito, sem muito sol. Vamos ver se isso é um sinal de um dia mais interessante. Vou poder usar minhas jaquetas e meu sobre-tudo se esfriar. :) Adoro roupa de frio. Elas tem sempre tantos bolsos... :)))
Finalmente depois de ter começado esse log, meus dias estão estacionando um pouco. :P
Bem... melhor estacionado do que rumando para a destruição.
Uma amiga minha disse que eu tenho como defesa do ego, esconder meus sentimentos falando deles como se fosse uma terceira pessoa. Certa vez uma pessoa me falou que as vezes parecia que uma terceira pessoa falava por mim com ela. Estarei louco ou serei um cavalo?
Eu acho que eu tenho uma tendência de me afastar da humanidade sim. Volta e meia eu vejo as pessoas como bolos de carne em um planetinha ínfimo perdido nos confins de um universo besta. E cada bolinho de carne ambulante se achando melhor do que o outro e dando uma importância àquela existência que realmente eu não dou. Tenho consciência da nossa impermanência por aqui. Vamos morrer e o mundo vai continuar a girar. E quem não tem essa concepção é limitado, age de má fé (no sentido existencialista do termo) e é muito mais feliz que eu. :(
Uma vez eu disse pra Ísis: "A ignorância realmente é uma benção. Quanto mais a gente lê, estuda e filosofa, mais triste a gente fica". Ai como eu queria estar errado!
Vamos encarar isso. Eu sou normal. Você é normal. Eu sou comum. Terrivelmente comum e humano demais. Todas aquelas situações em que imaginei - e me confortei muitas vezes com isso - que era o único, o especial, são terrivelmente ordinárias.
Sim. Como todo mundo não sabe o que fazer na primeira transa, como se sentir amado ou então de repente descobrir que não sabe o que é amor, como acordar sem querer levantar da cama ou ter problemas com qualquer um que toma o papel de autoridade. Como de repente sentir medo e solidão. Solidão como se fosse o único. Não, os solitários são muitos e os solitários nunca estão sozinhos em sua solidão.
São muitos também aqueles que realmente queriam saber o que as pessoas discretamente comentam sobre ele quando não se está por perto e são quase todos aqueles que queriam saber o que se passa na cabeça das pessoas. Algumas pessoas ou, na verdade, uma só em especial.
Especial.
I wish I was special. So fuckin' special... A coisa mais comum do mundo é não querer ser comum. É se agarrar a qualquer coisa que te faça mais. Que te dê mais. Que te faça se sobressair. Mas nós somos pateticamente comuns.Todos. Os gênios são comuns aos gênios. Existem trocentos gênios. Os tristes nunca são os mais tristes, os belos nunca são os mais belos. Sempre há alguém acima, e alguém abaixo, e alguém ao seu nível. E o mais confuso é que os adjetivos "pior" e "melhor" não equivalem a quem está acima ou abaixo. Ou mesmo ao seu nível. Os adjetivos são idiotas.
Eu gastei quase três horas conversando sobre isso como uma pessoa que eu gosto muito. Uma pessoa que eu respeito muito e por um triz deixo de admirar. Que triz é esse? Não sei. Ser confuso também é comum. Dizer não sei é quase consenso.
Enquanto discutia isso, todos as minhas certezas vieram abaixo. Não pelo que ela falou. Não pelo que vi. Mas de repente, entre um detalhe e outro, eu encaixei a última peça do quebra-cabeça e descobri que têm peças que simplesmente não se encaixam.
E isso é normal. Eu sou normal. Você é normal. E por mais que eu tenha me enganado tentando me fazer de esquisito, beligerante, teimoso, diferente, eu sou igual. As pessoas são iguais. E isso me choca absurdamente. Porque ao mesmo tempo em que somos tão iguais e sofremos dos mesmos males e nos agradamos com as mesmas pequenas recompensas do dia-a-dia, continuamos nos desentendendo através de palavras não-ditas.
Palavras não-ditas. Isso é tão normal. Tão comum. E agora estou eu aqui, escrevendo isso exatamente às 6:05 da manhã de Domingo, ainda bêbado da noite de sábado, me perguntando se escrever isso é normal. Se sentir isso tudo que eu não quero escrever é normal. Se tudo o que silenciosamente aconteceu hoje não é só um "no big deal", se eu não estou fazendo um grande caso e sendo histérico.
Ok, ser histérico é normal.
Eu vou dormir.
tava lendo a cronica do dapi no sc do globo hj, e me identifico muito com aquilo q ele diz la: n da para ficar muitos anos sem pisar em londres. temos (eu, dapi, o calbuque e montes de amigos, malladares incluso) um coracao de leao ingles, pq tudo o de relevante na musica, nas artes pop, nos ultimos 20 ou mais anos vem daquela pequena ilha fria comandada por uma rainha. seja no rock, pop, eletronica, artes plasticas, literatura e ate, em parte, no cinema. meu coracao é ingles, desde pequenino, qndo minha mae fazia curso oxford e eu folheava as apostilas dela, com fotos e paisagens londrinas. continuou com o punk rock, o som gotico, o synth, a e-music. quando eu piso na esquina de oxford com charing cross (q, num pequeno espaçco, abriga o astoria, o velvet room, tinha o marquee), alguma coisa acontece in my heart. desde a primeira vez. eu ja conhecia aquelas ruas mesmo antes de pisar lá. as vezes viajo imaginando q vou pegar o metro em botafogo e sair na estacao tottenham court, do lado do pub, colado no burger king, quase na porta lateral da virgin, vizinha da loja de equipamentos de som para djs. e a berwick street, a rua das lojas de discos no soho? um sonho. fica-se la o dia todo, q nem pinto no lixo, so ouvindo, cavando, futucando discos. se vc ainda n foi, faça-se um favor: junte uma grana (a libra é cara), arrume um bed e breakfast, e passe uma semana q seja na velha albion. aquele ar lá vicia...
Quem nunca levou fora na vida que me passe o lexotan mais próximo.
O fora da vez não é recente, nem gravíssimo. Mas os foras são, por natureza, inesquecíveis. Aquela sensação de tontura ou náusea que rola após a total realização de que "Haaalllo! você foi chutado!" deixa marcas invisíveis no cérebro. É claro que cada fora é diferente, tem intensidades diferentes e pode criar apenas um arranhão ou chegar a levar pedaços inteiros do ego. Determinados foras podem até virar diversão na terceira idade, diz minha mãe. Mas em geral, são a concretização dos nossos piores pesadelos. Têm trilha sonora, dor aguda, humilhação e atores ruins para dar e vender. Aliás, a vida tem essa mania irritante de concretizar nossos piores pesadelos e nos negar os sonhos perfeitos. Talvez seja só eu. Talvez pq sonhos perfeitos são, no fim das contas, uma chatice absurda.
Por maiores que sejam os tombos, por mais tempo que passe, ainda me encanto com o Rio de Janeiro. O Cristo, aqui, na minha janela, grita aos meus olhos. Seis horas da manhã e ele não me deixa dormir, tão linda a visão. É emocionante, quase um choro. Devo a ele, por baixo, uns 120 bons-dias que, só hoje vejo, nunca deveria ter deixado de dar. Às minhas rarefeitas certezas (aquelas das quais andei duvidando ultimamente) peço desculpas. Um bom homem sabe pedir desculpas, sabe voltar atrás. Muda de idéia quando acredita, sem dever. Não como quem troca de camisa, mas como quem se arrepende, assume os erros, pede desculpas e é desculpado. Do contrário, não é homem.
Já é dia. Vou andar de bicicleta.