..::Geléia de Pérolas::..

14.12.03



Sessão "Sem pretenções literárias"


A Poesia de Pedro

Pedro odiava poesia.
Odiava poesia. Odiava mesmo. Odiava tanto, mas tanto, que se colocares a mais preciosa pérola poética em sua frente, ainda assim ele te diria: é uma merda.
Mas se recortares o poema, e grudares as frases uma a uma, lado a lado, aí sim, te diria: mas que coisa linda!
Pedro dizia que poesia é coisa para desocupados. Ele não tinha tempo pro "blá blá blá" sem fim que não chegava a lugar algum. Preferia romances ou biografias. Mas jamais poesias.
A disposição vertical das palavras provocava tédio em Pedro. Frases e mais frases e uma estrofe inteira pra descrever o que uma frasesinha só, com 2 virgulas e um ponto final fariam com muito mais praticidade. Era objetivo. Preferia o jornal e revistas, mas jamais poesias.
Sempre as mesmas lamentações e apelos. As mesma palavras e metáforas sem zelo. O desconexo tinha vindo a tona mesmo! Ele nunca entenderia. Gostava de cantigas. Preferia as rimas, jamais poesias.
Não que ele não tivesse lido os clássicos: Augusto, Álvares, James Flecker, Robert Frost e outros. Mas até neles a monotonia se exprimia. "Não tinham nada melhor pra fazer?" dizia. Era como se esconder, se mascarar nas palavras para não ter a frustação real vivida.
Mas Pedro não. Preferia o choro ao invés da lágrima contida.
Preferia a vida, jamais poesia.

# posted byGustavo 6:37 AM :


10.12.03


O PODER DA MÚSICA

Ficar arrepiado, abrir um sorriso de satisfação, ser transportado ao passado ou reavivar lembranças, sentir vontade de mudar algumas coisas na sua vida, vontade de dançar, de correr pela rua numa tarde de chuva ou numa manhã ensolarada, de chorar. Todo mundo sente algo forte quando ouve uma música que lhe toca, e ninguém sente da mesma forma que outra pessoa, cada um sente à sua maneira. Por isso mesmo, uma mesma música pode transmitir sensações as mais diversas em cada pessoa, porque a maneira como cada um sente, não só a música, mas tudo, é única, singular, particular. Às vezes a música te pega pelo coração, às vezes pela cabeça, às vezes pela cintura, às vezes pelos três. Lembro de um conhecido que se arrepiou ao ouvir Opus Dei, do Laibach. Normal, How Soon Is Now ou There¿s A Light That Never Goes Out (The Smiths) provocam a mesma sensação em mim. Canções assim parecem possuir uma espécie de magia, algo que com palavras simplemente não dá pra explicar. Como eu poderia explicar a sensação ao ouvir Perfect Day (Lou Reed) ou Wish You Were Here (Pink Floyd) ou Atmosphere (Joy Division) ou Tonight, Tonight (Smashing Pumpkins) ou When The Music Is Over (The Doors) ou Do You Realize (Flaming Lips) ou Andréa Dorea e várias outras da Legião Urbana?

Publicado por Luciano // 13:44


8.11.03



Boa Noite Querida

Boa noite, querida.
Esta noite eu não terei medo.
Mesmo aberta as feridas,
não dormiremos tão cedo.

Sentirei o calor de seus beijos.
Esta noite estou mais sereno.
Não terei nenhum pesadelo,
não me sentirei tão pequeno.

Boa noite, querida.
Ao teu lado eu sinto o prazer,
tranqüilo me entrego a voz amiga
que me dá a razão de viver.

Boa noite, querida.
Durma com Deus e
cubra as feridas...


Do livro Lágrimas de Sangue de Romulo Narducci.

26.10.03


Rabisco por ordens médicas
E por ordens médicas já fui pro mar,
Já tomei sal de cozinha,
Flor delicada,
Tinta de lula,
Veneno de cobra,
Polem, mel, geléia real,
Já fiz terapia,
E tomo Floral
Brinquei com cores e tintas
Já pintei e bordei
Cozinho nas horas de crise
Já amei e desamei
Já fiz Shiatsu e acupuntura
E assumi todos os nós
E agora o que preciso fazer
E tentar esquecer
De por ordem no meus caos


Sexta-feira, Outubro 24, 2003
Divagado e Postado por Chiara

20.9.03


Joaquim

Ninguém me perguntou, mas vou contar assim mesmo. O curso de crônicas na Estação das Letras vai bem, obrigado. São 11 alunos - nada mal, levando-se em conta que as aulas vão das 15h às 17h. Logo de cara, um deles quis saber: "Professor, o procrastinador pode ser um escritor?". Procrastinador? Quem me salvou foi Paulo Mendes Campos. Há tempos, tinha lido sua crônica "Brasileiro, homem do amanhã", onde ele diz que as duas colunas da brasilidade são a capacidade de dar um jeito e a a capacidade de adiar, ou seja, de procrastinar. Nunca mais esqueci da palavra. "Para o brasileiro, os atos fundamentais da existência são: nascimento, reprodução, procrastinação e morte (esta última, se possível, também adiada)", escreveu o cronista. E, assim, pude responder com toda segurança: "Sim", e explicar porque o procrastinador pode ser um escritor. É uma turma interessada e atenta. Hoje levei a tiracolo o Joaquim Ferreira dos Santos, para dar uma palestra. Joaquim fez todas as gracinhas possíveis: leu crônicas, contou casos, falou com graça do penoso ofício de passar a vida colando palavrinhas uma atrás da outra. Duro agora é voltar a dar aula depois do show de Joaquim.

MAURO VENTURA, 7:44 PM


19.9.03



Eu quero sossego

"Vamos aceitar que a governadora não queira abrir mão de sua autoridade e da soberania de seu mandato. Respeitemos sua altivez e valentia. No Rio manda ela, e para isso foi eleita. Agora, ponha-se no lugar de quem quer ajudar: você aceitaria dar grana, pessoal, armamento, know-how, sem ter o controle de como esse investimento será usado?

Como confiar na eficácia de um esquema policial que não consegue
sequer impedir a entrada de celulares e armas no chamado presídio de segurança máxima de Bangu?

O problema nessa história de suscetibilidades à flor da pele é que não
se consegue acreditar no que Rosinha prometeu. Será que alguém
acreditou? Não se sabe o que é pior, se a sua soberba ao afirmar que
pode conter sozinha a violência no Rio, ou se a ingenuidade de
recorrer ao exemplo do marido, cujo governo, ela afirma, fez baixar os índices de criminalidade.

Não é nem o caso de discutir a afirmação. Basta lembrar-lhe que, no Rio, há muito tempo foram quebrados os termômetros. Não se precisa de instrumento para medir a febre. Não é como o calor, que a gente acompanha pelos relógios digitais. A violência não se mede com números e nem se combate com palavras.

O que adianta esse surto de "eu prendo e arrebento" se, enquanto ela se reunia no Palácio Laranjeiras para recusar a ajuda do governo federal, perto dali um professor era assassinado na porta de sua casa, às 7 horas da noite, quando saía para passear com o cachorro? Ou se, na Via Dutra, um arrastão aterrorizava os motoristas roubando carros?

Ou se...

Os casos são infindáveis. Será que a governadora não lê a seção de cartas do GLOBO? Na segunda-feira, todas as 14 mensagens publicadas eram sobre a violência. Ontem, eram vinte. Mais do que e-mails ou cartas, eram gritos de aflição, desespero, dor, protesto, revolta.

Essas pessoas não estão interessadas em discutir se a tranqüilidade é
federal, estadual ou municipal, como já se fez com o mosquito da dengue.

Nossos dirigentes adoram esses debates. Mas agora chega de bate-boca entre autoridades, de arroubos, de valentia, basta de ameaças. Como cantava Tim Maia, eu quero sossego, qualquer que seja sua procedência, venha de onde vier. De Lula, Rosinha ou Cesar Maia, de preferência dos três juntos, se isso for possível".

ZUENIR VENTURA


14.9.03


Ninguém entendia muito bem como aquele mulherão estava com o Brito. Uma mulher que esbanjava charme, linda e, ainda por cima, simpática e inteligente. Tão maravilhosa que mesmo as mulheres mais ciumentas dos amigos do Brito não conseguiam ter ciúmes ou raiva dela. Afinal, ela era legal demais. E extremamente fiel ao Brito.

Mas o que ela tinha visto no Brito? O Brito era feio, pobre, pouco asseado, careca, tinha um físico de orca e ainda por cima era meio chato. Vivia dando furos, inconveniente, já tinha conseguido separar dois casais da turma só na base da gafe. Além de tudo era meio burro e falava palavrões demais. Tudo bem, era um cara legal e bonzinho, e às vezes até conseguia ser simpático, mas isso não justificava a paixão que a Cicinha tinha por ele.

As meninas viviam perguntando pra Cicinha o que ela tinha visto nele. E ela simplesmente suspirava e falava que era paixão. Ô paixão braba, sô! Dizem que o amor é cego, mas aquilo era uma verdadeira obturação ocular!

Só que um dia, ao chegar em casa depois de fazer as compras (o Brito nunca ia e sequer ajudava ela a descarregar, tinha preguiça), ela encontrou o Brito a traindo com a Feiticeira. Pior, do lado ainda aguardavam a sua vez a Tiazinha, a Babi, a Vera Fischer e até mesmo a Maitê Proença, meio amassada, com pagina faltnado... ele nem tentou explicar, veio na direção dela com a cara mais deslavada do mundo pra dar um beijinho de boas vindas e ela, horrorizada, deu-lhe um belo chute no Britinho.Saiu de casa chorando e dias depois, a sua irmã foi buscar suas coisas e deixou um bilhete no qual se lia, entre borrões e marcas de lágrimas, que queria o divórcio.

Todo mundo esperava que o Brito fosse ficar inconsolável, mas ele, pelo contrário, seguiu sua vida normalmente. Nem parecia que tinha perdido aquela mulher maravilhosa, ia trabalhar tranquilo, falava no assunto como se estivesse comentando um jogo de futebol e tinha até melhorado o visual. Perdeu uns quilinhos, agora tomava banho todo dia e tinha até melhorado o humor. E a Cicinha, que tinha se livrado daquele peso, até vestira luto. Alias, ficava linda de preto. Mas nenhum homem podia chegar perto dela, ela não queria saber de nada disso. Ela dizia que era como se tivesse enviuvado, e que o Brito era o homem da vida dela.

Ninguém entendia nada. O Brito passou a sair toda noite e sempre voltava com uma mocréia pra casa. Uma pior que a outra. A última parecia uma colisão de trens de carga de país subdesenvolvido. O Rubão chegava a falar (em off, a mulher dele que não o escutasse) que se tivesse tido uma mulher como a Cicinha, ia broxar com qualquer outra que aparecesse na sua frente. Ainda mais aquele jiló em forma de gente.

Um dia desses, Brito morreu, de repente. Um espanto. O Brito era mesmo surpreendente! Agora que parecia estar remoçado, em melhor forma do que nunca, ia morrer assim? A Cicinha quase teve um troço quando soube. No enterro, ela queria ir junto, chegou a se jogar na vala e não havia cristo que a tirasse de lá! Era impressionante, nem a mãe do Brito entendia essa... coisa!

Depois de algum tempo, descobriram uma carta, esquecida naquela bagunça que era a casa do Brito. Era do Brito, pra quem quisesse ler. E era fantástica.

O Brito já sabia que ia morrer e não tinha contado pra ninguém. E amava tanto a Cicinha que preferiu fazer com que ela o deixasse e morresse de raiva dele do que iver os últimos dias de vida com ela. Por isso saia com as barangas mais barangas do mundo. Por isso que se fingiu de safado, de sacana, de um verdadeiro cafajeste.

No fundo, era a única explicação lógica pro amor da Cicinha por ele. Afinal, ele era o único que a tinha amado de verdade, como se deve amar alguém, e não a idolatrando como uma coletânea de qualidades.

13.9.03

Nishi às 7:42 PM


7.9.03

7.8.03


Bretton Woods para leigos


Este Pan é uma grande favela. Nas poucas transmissões que tive saco de acompanhar, percebi que a República Dominicana tem instalações esportivas tão modernas quanto as da escola pública aqui perto de casa.

Mas não vamos ser pessimistas. Mesmo sendo um fiasco de organização, os jogos pan-americanos podem ser muito importantes para a economia local. Por exemplo: se um dominicano conseguir conquistar uma medalha de ouro, o país aumentaria em mais de 50% as suas reservas internacionais.




Escrito por: Mr Manson - [05/08/03 - 05:59]


7.7.03

19.6.03


Romário pretende chegar aos mil gols . Acho difícil .Se ainda joga em clube grande é por causa de seu nome .Suas atuações em campo são cada vez mais patéticas. Fosse qualquer outro jogador com metade do currículo dele , estaria jogando por um Mogi Mirim da vida . "O baixinho abrilhanta qualquer time !'' dizem os puxa sacos da mídia . Romário é apenas sombra, uma caricatura do jogador que já foi um dia . Morrisey quando compôs " Get off the stage " com certeza n?o dedicou ao Romário , mas eu dedicaria . É a cara dele.
Romário saia do palco , quer dizer, saia dos gramados !!



"Get Off the Stage"

oh, you silly old man
you silly old man
you're making a fool of yourself
so get off the stage

you silly old man
in your misguided trousers
oh in your mascara and your fender guitar
and you think you can arouse us

but the song that you just sang
it sounds exactly like the last one
and the next one i'll bet you it will sound like this one

downstage and off stage
don't you feel all run in?
and do you wonder when they will take it away
this is your final fling

but then applause run high
but for the patience of the ones behind you
as the verse drags on
like a month drags on
it's very short
but it seems very long

and the song that you just sang
it sounds exactly like the last one
and the next one i'll bet you it will sound like this one

so get off the stage
oh get off the stage
and when you get down off of the stage
please stay off the stage or leave

get off the stage
oh get off the stage
and when we've had our money back
then i'd like your back in plaster

oh i know that you say
how age has no meaning
oh but here's
your audience now
and they're screaming

get off the stage
get off the stage

because i've given you enough of my time
and the money that wasn't even mine

have you seen yourself recently?

get off the stage
get off the stage

uh hum nuh uh hum nuh uh hum nuh.......
( get off the stage get off the stage get off the stage)

for whom the bell tolls

.

Plagiado por RODRIGO GUEDES 5:15 AM

15.6.03


Devo confessar que fico um pouco emocionado quando vejo alguém lendo alguma coisa nas ruas. Ora, em um país como o nosso, onde as pessoas lêem tão pouco, isso é deveras raro. Não, pessoas que aqui vêm, o mundo não é como o nosso. Há um mundo real lá fora, de pessoas que nunca viram um computador, pessoas que morrem de frio e fome nas ruas, pessoas que não sabem ler nem escrever. Um pequeno comentário: não me "sensibilizei" do dia para a noite, e não tenho a menor vocação para Quixote social, não choro com mendigos e crianças de rua - bem, quase nunca. Esse post NÃO é um libelo social. Apenas falo isso para lembrar-vos que vivemos em um país onde somos a minoria, nós, que sabemos ler e temos acesso à Cultura.

Junto com essa emoção de ver alguém lendo alguma coisa, me acomete uma curiosidade horrível: de saber o que aquela pessoa está lendo. Enquanto não caço na lombada ou no cabeçalho o nome do livro e do autor, fico irrequieto, incomodado mesmo, como se vestisse uma cueca apertada. Primeiramente, fico olhando de esguelha, de forma blasé, para não ser notado. Se não consigo ver o nome, torno-me um pouco mais ousado, e tento olhar diretamente, sem me importar em ser pego. Cheguei até mesmo a perguntar, uma vez: "desculpe, mas o que você está lendo?", na cara duríssima.

Hoje vi uma menininha no ônibus, de seus 13, 14 anos, lendo. Imediatamente depois de ficar feliz com isso, me deu a comichão de saber o que ela lia. Nào precisou muito, e eu vi o nome do livro. A menininha estava lendo o novo livro do *sigh* Paulo Coelho. Devo ter feito uma cara de indignado, que ela olhou para mim de repente, e eu sorri, com cara de babaca (e com medo até de ser chamado de pedófilo, vai saber... Depois que a internet inventou a pedofilia, tudo é possível).

Será que não tem ninguém para dizer para aquela menininha que ela está perdendo o tempo dela? Alguns poderiam dizer: "Ah, mas pelo menos ela está lendo..." - eu acho isso extremamente medíocre, como se você visse o morador de rua comendo sobras azedas daquele restaurantezinho fresco onde você vai com a sua noivinha-patricinha-cheirosinha e falasse: "Ah, que bom, pelo menos ele está comendo alguma coisa".

Na hora me indignei, e deu vontade de arrancar o livro das mãos dela e gritar: "vai ler Dom Casmurro, infeliz! Pára de ser enganada!"

Ela desceu dois pontos antes do meu, feliz com seu Paulo Coelho na bolsa, e eu com cara de puto dentro do ônibus.



por Bardo

31.5.03


Estamos Nos Divertindo!

por Nick Hornby
Texto originamente publicado na revista Mojo # 84, de 11/2000; e traduzido por Claudia Ferrari

"À medida que as críticas sobre o álbum 'The Passengers' iam saindo", escreveu Brian Eno no seu diário "A Year With Swollen Appendices", "mais uma vez aparecia aquela sensação ruim no estômago com a disparidade entre o espírito em que as coisas são feitas – alegria, entusiasmo, curiosidade, fascinação – e aquela na qual elas são freqüentemente recebidas – cinismo, falta de interesse, ressentimento ...".


Algumas das críticas sobre o último álbum do Teenage Fanclub, o ensolarado, alegre e entusiástico "Songs from Northern Britain" levam alguém a se perguntar se o Teenage Fanclub foi convidado por Brian Eno para simplesmente ilustrar essa disparidade: aqueles que amaram o álbum ouviram uma tentativa consciente e emocionada de articular a alegria adulta por meio de músicas pop de três minutos (e pelo menos meia dúzia de melodias fantásticas); jornalistas que o odiaram escutaram apenas a banda que perdeu a sua capacidade de inovar.

Qualquer um que tenha gasto cinco minutos na companhia de "Songs from Northern Britain" poderia ouvir que inovação era dificilmente o ponto: você também pode criticar um círculo por não ter cantos pontiagudos ou um restaurante indiano por fazer hambúrgueres ruins. Se você quer inovação, bem ... por que não vai ouvir algo inovador?

Felizmente eles não se desencorajaram com as críticas e o Teenage Fanclub retornou depois de três longos anos com "Howdy!", que soa como se eles tivessem colocado "Songs from Northern Britain" numa peneira para remover os últimos pedaços desagradáveis de pessimismo de suas almas.



"Howdy!" é quase insanamente feliz, uma ode em 12 estrofes às alegrias do amor e da vida e da música e da harmonia, tanto no sentido musical quanto filosófico da palavra. Há uma música chamada "Happiness", e uma música chamada "The Sun Shines From You", e o refrão de "My Uptight Life" (um título que deve ter chamado a atenção os caçadores de inovação por um momento) que é "All my life I’ve felt so uptight / Now it’s all right" (Toda a minha vida eu fui tão tenso / Agora está tudo bem), e primeira linha de "The Town and The City" diz "Feels good to be here again" (É bom estar aqui de volta), e os backing vocals de "I Need Direction" são "Ba-ba-ba, ba ba ba ba ba".

Qualquer um sentindo-se cínico e ressentido deveria sair correndo até o Our Price (Cadeia de lojas populares na Inglaterra), onde cinismo é vendido aos montes, ou talvez às páginas musicais dos jornais.

O Teenage Fanclub tem seguido um estranho caminho. Quando eu estava escrevendo "Alta Fidelidade" em 94, Barry, um dos caras que trabalha na loja de discos que serve de locação ao romance, pregava um cartaz recrutando membros para uma suposta banda. "DEVE GOSTAR DE R.E.M., PRIMAL SCREAM, FANCLUB, ETC." E estava correto naquele momento: o Teenage Fanclub era o sonho de todo vendedor de loja de discos, meio grunge e subproduzido, com uma fixação séria por Big Star. Desde aqueles dias, entretanto, a sua música tornou-se mais rarefeita e limpa e quase perversamente divertida. É como se eles quisessem inverter a direção dos anos 60: eles começaram com "Helter Skelter" e foram trabalhando até chegar em "I Want To Hold Your Hand". É muito difícil fazer o caminho contrário, claro, porque todos nós começamos jovens e cheios de esperança e terminamos amargos e violentos (ou isto não acontece com todo mundo?), então há algo quase heróico em abraçar este tipo de suavidade; ela parece ter sido ganha arduamente e por isso é ainda mais convincente.
"I Need Direction", a primeira música do álbum, aquela com os backing vocals "ba ba ba" quase Austin Powers, apresenta a filosofia atual da banda de forma sucinta: o solo de órgão consiste de 4 notas descendentes, e o solo de guitarra foi roubado de Hank Marvin em vez de Neil Young / Jung. Não é tanto uma obsessão com o passado (porém você ainda pode ouvir The Byrds e Crosby, Stills, Nash & Young tão claramente quanto em "Songs from Northern Britain") como uma obsessão pela simplicidade. A falta de complicação é tudo aqui, a qual é a marca das pessoas que pensam naquilo em que trabalham e como ser o melhor naquilo que fazem – pergunte a qualquer artista de qualquer valor em qualquer área, e eles estarão preocupados em como deixar mais coisas de fora, e não como colocar mais coisas no seu trabalho. Estes caras confiam nas suas músicas e nas suas vozes, e eles têm todo o direito de pensarem assim.

Você pode ler este artigo e pensar que ele não é para você. Eu sugeriria educadamente que se esta é a conclusão a que você chegou, então você é precisamente a pessoa que mais precisa dele. Você provavelmente já escuta muita música triste e complicada, e quanto mais você agüentaria? "Escute aquilo que você está perdendo" eles cantam em "The Town and The City", minha favorita atualmente e presença garantida em qualquer fita dos melhores do ano 2.000. Se você é esperto – e desanimado e triste e amargo – você deveria ouvir o conselho deles.




Scream & Yell

24.5.03


Eu não sei escrever. Nem versinhos, pensamentos ou qualquer coisa que 'me' explique. Então eu tiro fotos. Meio que nem criança, sabe? Que faz um desenho e aponta... pra tentar mostrar o que ela viu. As vezes funciona.




É bom pisar na areia. O pé afunda.



Posted by Fjäril

8.4.03


Trocando de biquini sem parar

Em tempos dantes navegados, 31 de março era celebrado na escola como o Dia da Revolução (sic) de 1964, e éramos obrigados a pintar bandeirinhas do Brasil e a cantar o Hino Nacional no pátio do colégio. Com as mãos encostadas no peito, soltávamos nossas vozinhas agudas em uníssono, repetindo mecanicamente uma letra hermética, como se isso fosse capaz de despertar ufanismo em alguém. Oras, é como esperar que um moleque de 11 anos vá criar gosto pela leitura depois de ser obrigado na escola a ler Iracema ou Eurico, o Presbítero. Mas, no meu caso, o Hino soava mais nonsense ainda. Porque, na maior das convicções pueris, eu cantava a seguinte pérola: "Elvira do Ipiranga às margens plácidas". Passei anos intrigado com o misterioso papel de Dona Elvira na proclamação da independência, especulando se não era um pseudônimo da Marquesa da Santos.

Anos mais tarde descobri uma expressão, aparentemente criada por Paulo Francis (na época do primeiro Pasquim), para definir essas ocasiões em que a cabeça da gente viaja longe e recria maionesicamente letras de música: "virundum". Inspirada, bobviamente, pelo fatídico verso inicial de nosso hino, que até hoje causa lapsos em patriotas incautos e jogadores da Seleção, ao cantarem coisas como "verás que um FILISTEU não foge à luta" ou "do que a terra MARGARIDA". Há uma expressão mais contemporânea: "dibikini". Originada por um velho hit do grupo Brylho, Noite do Prazer: "na madrugada vitrola rolando um blues/ tocando B. B. King (ou: trocando de biquíni) sem parar".

Os americanos também possuem um termo para isso: "mondegreen". Para que vocês vejam como a história é antiga, a expressão data de 1954, quando a jornalista musical Sylvia Wright confessou, em um artigo, que havia entendido "lady Mondegreen" no verso de uma canção que dizia "and laid him on the green". No site Kiss This Guy é possível encontrar mais de 2.500 exemplos de letras involuntariamente modificadas. Eye of the Tiger, a música-tema de Rocky, o Lutador, tornou-se "Ivan the tiger". Love in an Elevator, do Aerosmith, virou "loving an alligator". E daí pra pior.

Aqui no Brasil, o "mondegreen" mais hilariante que conheço foi descrito por Mário Prata. Uma amiga dele confessou que, ao ouvir Ciranda Cirandinha, entendia que o verso "o amor que tu me tinhas era pouco e se acabou" significava "o amor de Tumitinha era pouco e se acabou". Para ela Tumitinha era o diminutivo carinhoso de Tumita, um garoto japonês que se decepcionava demais toda vez que se deparava com a volatividade de suas paixões. Quando descobriu que o tal garoto não existia, sofreu pra burro. Parece que ela faz análise até hoje.

Uma grande "especialista" em virunduns é minha amiga Patricia Correia, a Sra. Pedro Vitiello. Que, ao cantar o tema do Sítio do Pica-Pau Amarelo, em vez de "bananada de goiaba, goiabada de marmelo", cometia: "banana a dar de goiaba, goiaba a dar de marmelo".

Outra amiga minha que repassou exemplos ótimos de virunduns é Maria João Amado, a mãe da Júlia. Repasso a palavra a ela:

"Eu tenho 2 músicas que juropurdeus que ouvia diferente: uma é 'Como Nossos Pais'. Naquela parte do 'contando o vil metal', eu entendia 'cortando fio dental'. :) E a outra é uma música de Luiz Gonzaga que diz: 'Luiz respeita Januário.../ Respeita os oito baixos do teu pai'. Eu entendia, e cantava: 'respeita os 'ovo baixo' do teu pai'. KKKKKKKKKKK

Tem uma outra historinha bonitinha de meu irmão mais novo. Um belo dia saímos em família para lanchar na McDonald's recém-inaugurada (isso foi em 87), e Jonga, meu irmãozinho, do alto dos seus 7 anos falava que os Beatles isso, e os Beatles aquilo. Meu Big Brother (irmão mais velho), já de saco cheio da falação, intimou:

- Você conhece os Beatles?
- Claro. Conheço muito.
- Ah, é? Então diga pelo menos 1 música deles.
- Fácil. Tilóptium!
(todos juntos) - O quê?
- Tilóptium!
- E que música é essa?
- Aquela... Tilóptium yeah, yeah, yeah..."


Vai, confessa aí: qual foi o pior "virundum" que você já cometeu? Compartilhe suas recriações musicais no espaço dos comentários...



Virunduns

3.4.03



Os noticiários econômicos estão comemorando a queda do "risco Brasil" nas últimas semanas.
Vamos recaptular:
Nas últimas semanas eu tive que contar com a sorte para não ser atingido por uma bala perdida ou queimado dentro de um ônibus. Também não posso beber a água da torneira sem medo de estar sendo contaminado por lixo tóxico. E para completar, provavelmente vou pegar conjunivite nos próximos dias.
É impressionante como os economistas conseguem enxergar o mundo de uma maneira diferente...

[Mr Manson]


29.3.03


Queria entender qual é o mecanismo orgânico que é acionado no meu corpo cada vez que ouço teu nome. Nada provoca a mesma reação. É uma combinação de estado permanente de torcida do flamengo ao cubo, fome de 3 dias, descompressão a 10.000 pés de altitude, pular de bang-jump, foz de adrenalina do Iguaçu. Boca seca, lábios frios, mãos geladas, pés deslizantes de suor, pernas trêmulas e um oco no estômago.

Se ainda sinto alguma coisa por ti?
Que pergunta!
Claro, indiferença.



por Ticcia

22.3.03

10.3.03


Do you wanna get heavy?

E de repente ele apareceu com uma camiseta que imediatamente me fez lembrar de tudo:
Da noite, das músicas, das palavras.
Da cerveja, do vinho, dos filmes preferidos.
Do pôster de Pulp Fiction que eu tenho colado na parede do meu quarto.
Da barba por fazer machucando meu rosto.
Da minha língua deslizando dentro da boca úmida e vermelha.
Do toque, das confissões tímidas, do sorriso quase escondido.
Dos contos escrotos que envolviam incesto e outras coisas.
Do pedido para que no dia seguinte eu o beijasse novamente.
Das ruas sujas e escuras.
Do meu bar preferido.
Dos comentários óbvios e/ou assustados.
Da fase foda pela qual eu passava.
De como eu achei que tudo poderia ser diferente.
Do telefone que não tocou no dia seguinte, nem no seguinte e menos ainda no seguinte.
Dos olhares que fugiam e pareciam pedir que nenhum de nós dois estívessemos ali de verdade.
Do meu medo.
Da minha covardia e insegurança disfarçadas em um comportamento pseudo-amigável e prático.
Do meu ar blasé.
Do modo errado que conduzi tudo isso.
De tudo que mudou em mim.
De tudo que insisti em manter mesmo vendo que estava jogando um monte de coisas fora.
De tudo que eu não fiz.
Das palavras que eu teimei em não dizer.
Da minha insistência em foder tudo.
Da minha maneira auto-destrutiva de enxergar a vida.
Das chances que eu perdi.
Das conversas imaginárias que tive.
Da fase foda pela qual eu passo novamente.
Das chances que eu talvez ainda tenha.
Ou não.



::enviado por Alice - Aliceee | 02:13:39

27.2.03


Eu queria um mundo melhor. Quero. Tento. Luto. O mundo parece tão sem sentido que esta foi a forma que encontrei de lidar com isso, de dar sentido à vida, lutar para que o mundo e a vida seja melhor, para todos, tentando participar positivamente de algo que é maior do que eu.
Não sei se há vida depois da morte. Mas a vida continuará depois da minha morte, a vida dos outros. A vida no planeta. Então, se não houver nada depois da morte, e minha consciência se apagar como uma lâmpada que queima, que não tenha sido em vão a minha existência. Que eu tenha pelo menos feito algo para que os que vão chagar encontrem um mundo um pouco melhor do que o que eu encontrei.
Não sei se há um Deus cuidando de tudo. Vejo tanta desgraça por aí, miséria, fome, injustiça, guerra, estupros, chacinas. Por isso, na maior parte do tempo me parece que não tem Deus nenhum cuidando de nada. Que estamos sozinhos aqui em baixo se ferrando.
Mas vejo pessoas cuidando umas das outras. E isso muda vidas, situações, circustâncias. É nisso que eu aposto. Se houver um Deus e eu encontrá-lo depois da morte, então ele vai ser capaz de entender essa minha limitação de fé.
Se Deus existe, pode ser que ele tenha posto sobre nossos ombros a incumbência de cuidar uns dos outros. Isso também me passa pela cabeça.
Eu não sei se sou do bem. Diria que essa luta por um mundo melhor faz parte do meu lado bom. Também tenho meus defeitos, erro muito, como todos tenho um lado mau.
Acho que todo mundo tem um lado bom e um lado mau, e dentro das suas inúmeras limitações, têm mais energia em um ou outro.
Não busco a salvação da minha alma. Não gosto dessa conversa de salvação, porque os salvos se acham melhores e superiores do que os que não estão salvos. A salvação da alma é só mais uma ilusão de segurança e continuidade. As pessoas têm necessidade de ter certezas, de se sentirem seguros. Umas fazem plásticas, outras compram casa própria ou acumulam bens. Algumas tentam a fama, outras se casam. E outras buscam se sentir seguros salvando a alma e/ou adotando qualquer religião como verdade absoluta, a qual não existe.
Mas ninguém está seguro em lugar nenhum, em relação a nada. E somos pequenos demais pra entender a vida e ter certeza da continuidade dela.
Busco apenas aliviar o fardo dos outros às vezes, quando posso, porque todos temos fardos pesados, fardos recheados com a dor da existência. E a existência só fica um pouco mais leve e menos dolorida quando um carrega um pouco o fardo do outro.


posted by Rossana Fischer at 9:10 AM



25.2.03


Sábado, Fevereiro 01, 2003

Sei que vou escrever muita merda aqui. Mas quero que vocês tentem ver as coisas como eu estou vendo, agora.

Todo mundo sabe que vai morrer. Mas ninguém pensa que pode ser hoje. Você não acorda e diz: "Ah, talvez eu morra hoje". Não. É uma idéia vaga, distante. Mas nào está tão distante. Eu nunca pensei que fosse morrer agora. Mas vou. Em menos de um ano. Mas pode ser amanhã.

Essa proximidade me traz uma lucidez impressionante... Agora mesmo, na minha sala, com a casa rangendo com os sons noturnos, tudo está escuro, apenas um monitor faiscando. E eu aqui, sentado. Um maço de Marlboro me encara com insistência, como se dissesse: "Ah, você vai morrer mesmo... Que mal fará mais unzinho só?"

O gato agora levantou-se assustado. Dormia no sofá, sem ter consciência da própria mortalidade. Mas parece saber da minha. Está aqui, se enroscando em minhas pernas. Esse silêncio me incomoda. Preciso de uma música (um réquiem, ha-ha-ha). Preciso de um cigarro.



Expelido por Canceroso

10.2.03

18.1.03



A inversão dos valores

Um dia eu acordei e tinha mudado tudo. Uma inversão de valores. Tive que me adaptar. Aprender uma porção de coisas na marra. Com a experiência. Experiência besta essa de aprender tudo o que não devia. Estudei no Sion, debalde. Me aborreci à toa com aquelas freiras ensinando francês, boas maneiras... Fiquei sabendo, por exemplo, que hoje em dia não se retorna mais ligação. É chique. Dá status. O importante é ser inatingível, grosseiro. Bons tempos aqueles em que eu falava com Fellini, em pessoa, na Cinecittà, sem intermediários, e passeava com ele pelos estúdios.

- Aqui, minha filha, é o restaurante - mostrava-me ele, o braço por cima dos meus ombros - ali os camarins...

Uma vez liguei também pro George Benson, em Los Angeles, pra mostrar-lhe uma fita da Adriana Calcanhotto, e ele retornou a ligação, interessado! Minha irmã me diz:

- Pára de contar essas coisas que vão achar que você é a princesa Anastácia, que acabou no hospício, feito louca.

Mas tinha uma delicadeza... Ontem vi Nara Leão na TV Cultura, linda, cantando Com açúcar, com afeto. Hoje não tem mais açúcar, ele foi substituído pelo dietil e afeto, então, ah! Corre-se dele como o diabo da cruz. Também ninguém mais canta com aquela delicadeza que fazia até carcará ficar sutil.

Secretária eletrônica só serve mesmo pra pessoa se esconder, ficar quietinha, ouvindo o palhaço deixar o recado. ''Tá pensando que eu vou responder, ah! coitado!...'' Celular é pra ficar fora de área. Tem coisa mais brega que celular funcionando? Antigamente, não. Gente bem educada tinha não só que dar o retorno assim que chegasse em casa e a empregada (nervosa com a possibilidade de errar e perder o emprego) contasse quem ligou. Como também tinha que telefonar para agradecer a festa ou a reunião que tivesse ido na véspera. Pros homens, valia também ligar pra moça no dia seguinte de uma transa, mesmo que fosse só pra fazer uma gracinha qualquer ou dizer:

- Oi, tô aqui .

Agora, não. Ninguém mais tá aí pra nada. Isso dos homens ligarem no dia seguinte então, acabou faz tempo. Foi substituído primeiro por um ''a gente se vê'' muito vago, com um beijinho nos lábios, depois de uma suposta noite de paixão, quando se ia levar o cara na porta. Depois, virou um beijinho na testa, já com o pé no elevador, sem texto nenhum. E mais tarde, um gesto que queria dizer tchau de longe, sem beijinho nem texto pra deixar bem claro que não tem gancho pra próximo capítulo, muito menos pra novela. Também não há possibilidade de virar filme porque não monta. Não tem edição. Falta roteiro, seqüência, diálogo. É, no máximo, um clipe rápido, uma cena que você grava na cabeça e fica voltando, se quiser. Vive-se um trailer do que poderia ter sido. Um flash, uma hipótese.

Outro dia uma amiga jovem concordou em ir pro apartamento do cara contanto que ele ligasse no dia seguinte. Combinaram assim. No dia seguinte ele ligou, como prometera, e quando ela perguntou:

- E aí, quando é que a gente se vê de novo?

Ele respondeu:

- Ah, assim também é demais. Isso eu não prometi pra você...

Mas não houve só uma mudança negativa. De positivo há a vantagem de que hoje em dia mulher pode ligar pra homem, por exemplo, coisa inadmissível naquela época longínqua do Sion, quando mulher tinha que ser inatingível, cobiçada de longe, de preferência passando de helicóptero, dando adeus. Isso quando o auge da transgressão no colégio era matar aula na Sears ou no Jardim Botânico e não matar o colega de carteira na sala de aula ou a professora no recreio com uma rajada de metralhadora.

Mas, cá entre nós, se mal lhe pergunte, o que é que adiantou mulher poder ligar pra homem se ninguém responde às ligações? Conclui-se então que telefone, celular, bip, secretária eletrônica, e-mail, servem pra gente se proteger do outro e não pra se comunicar. Ninguém mais quer se comunicar com ninguém nessa era da comunicação. O outro é uma ameaça constante. O que sempre foi, aliás. A diferença é que vivíamos sonhando com ela. Agora, não. Quando perguntei à filha de um amigo por que ela não ficava de novo com o garoto da festa, se tinha sido tão bom, ela respondeu, categórica:

- Repeteco não preenche álbum de figurinha...

Transam-se todas as possibilidades de sexo, droga, rock and roll, mas o afeto continua encerrado no peito há tanto tempo que até perdeu-se a chave, substituída por um controle remoto.

- E se o Bush invadir o Iraque, a Coréia acabar com os Estados Unidos, um asteróide se chocar com a Terra? - perguntei a um amigo, por fax.

- A gente toma um lexotan e espera bater - respondeu ele, por e-mail, uma semana depois.


[17/JAN/2003]
Maria Lucia Dahl

5.1.03



31.12.02

Santa da Janela. Não é brinquedo não. Corralito na Argentina. O celular de Fernandinho Beira-Mar. Baba baby baba. Mala de R$1,34 milhão na Lunus. Matou a família e foi ao motel. O decote de Deborah Secco. As mães de Pedrinho. Cerco à Igreja de Natividade. 100% Jardim Irene. Diego e Robinho. O assassinato de Celso Daniel. Eu tenho medo, muito medo. Eva, o primeiro clone? Thyrso e Manoela. Blame it on Lisa. Lula, você vai manter a Cide? Palmeiras na segunda divisão. Cada mergulho é um flash. Robert Scheidt hexacampeão mundial. Atentados em Bali e Mombasa. O ano do euro. Gisele: fur scum. Os lábios de Daniela Cicarelli. O cabelo de Ronaldo Cascão. Free Winona. A voz do Gato Mestre. O pretzel de Bush Júnior. Concordata da World Com. Dadinho o caralho, meu nome é Zé Pequeno! Dólar a quatro reais?! Rubinho abre alas para o alemão. Palmas no JN para Tim Lopes. Paulo Coelho na ABL. Blogger Brasil. Esse eu agarântio! Duda Mendonça. O avião da TAM matou a vaca. Chipkevitch gosta de criancinhas. Gretchen apanhou do noivo. Morreu um Clash. Free Olivetto. Canonização da Madre Paulina. Além do Céu Cinzento invade a rádio. Roberto Carlos canta rap. Britney Spears não é mais virgem. Maldito Risco Brasil. 1 milhão e meio de votos para Enéas Carneiro. Se eu fosse você, procurava um médico. Asehere ra de re. How you remind me? Michael Jackson balança bebê na janela. Chechênios invadem teatro russo. Carandiru foi implodido. Meu filho se chama Mano Wladimir. A volta de Herbert Vianna. Morreu um Ramone. A cabeça raspada de Patricia Pillar. Rosinha Garotinho, programa de índio. Free Belo. Lágrimas de Kléber Bambam. Oscar politicamente correto. Cadê Osama? Saudades do Audiogalaxy. Pelé esqueceu de dar a bandeirada. Já sei namorar. The Eminem Show. Fátima Bernardes musa da Copa. William Bonner para Presidente. Os dentes quebrados de Reynaldo Gianecchini. A bala que acertou o jabuti. O franco-atirador de Washington. Serra & Rita. The Osbournes. Pepsi Twist. Calouros do Raul Gil. No more Free Jazz. Os pelados de Spencer Tunick.



Xô, 2002!

E que venha 2003. Um Feliz Ano Todo para cada um de nós. Até lá.

Alexandre Inagaki

23.12.02


Nada é real. Nada mesmo… no fim estamos todos sós, mendigando por um pouco de amor que, com boa vontade e muita carência, acreditamos que é real. E quando descobre-se que não existe amor nenhum,porque nada existe realmente, bebe-se... muito até vomitar bílis e chorar até não ter mais lágrimas. Que desperdício, sou um tremendo desperdício como pessoa.

n.p.- “Il n’y a pas d’amour heureux” – Françoise Hardy



enviado por Tati - Sugar Kane as 04:41:33.

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