Ando olhando para baixo. Pro chão. Não me pergunte por quê. Não quero saber da sua opinião, não me venha dizer pra levantar a cabeça essas coisas!!! Tenho raiva de quem tenta me analisar de forma rasa e superficial. Mesmo porque a minha pele esconde muito mais do que vísceras molhadas de sangue e fluídos corporais. E dentro de minha cabeça não existem só miolos.
O que importa é que sempre que caminho para algum lugar, percebi que ando olhando para baixo. Isso não é muito bom, afinal ajuda a diminuir ainda mais a minha pequena estatura. Mas pobre de nós, pequenos na altura e no afeto! Olhemos para baixo e fiquemos ainda menores.
Odeio baixinhos altivos, que andam de peito estufado e pescoço erguido. Não passam de minúsculos playmobils que tentam se passar pelo Ken da Barbie. Certo, o que podemos fazer se não nascemos compridos? Não ando com sapatos de salto, não penteio o cabelo pra cima - aliás, esses topetinhos de hoje são uma das coisas mais bregas que inventaram ultimamente - e não vou tentar parecer alto. E nem quero me sentir alto! Sou baixo, baixo, baixo, pintor de rodapé, salva-vidas de aquário!
Quem liga pra isso? Fico na ponta dos pés pra me segurar no metrô. Nessas horas, admito, sou obrigado a ficar ereto, esticado, mas é por necessidade. Talvez até por isso eu tenha desenvolvido uma técnica de surf no metrô inigualável. De terno e pasta, ninguém consegue aguentar mais os sacolejões do metrô do que eu! Aliás, olhando pra baixo, pois a cabeça fica mais próxima do centro de gravidade e ajuda no equilíbrio!
Chega de discriminação. Eu sou um baixinho assumido, que pensa baixo, que sonha baixo e que nunca vai trepar com a Gisele Bündchen! Até por uma questão de prática, não é? Porque, apesar de ser baixinho, eu sou carinhoso e adoro beijar enquanto meto. Pois é, com mulheres como ela, impossível! Ou beijo ou meto. Ou então meto beijando o umbigo, o que chega a ser ridículo.
E vou andar olhando pra baixo sempre, a partir de agora. Não quero saber de convenções sociais e de qualquer coisa nesse sentido! Foda-se! As pessoas acham que o céu é o limite? Pra mim o subsolo é o limite! Elas querem subir na carreira? Pois eu quero baixar na carreira!! Coisas boas estão ligadas à palavra "baixo"! Eu "baixo" música da internet, eu gosto de "baixo" e bateria, mais do que guitarra, o futebol brasileiro é famoso pelas "embaixadinhas", quando faz sol em São Paulo todo mundo vai à "baixada"...
Mas só pra não deixar isso no ar... sim, estou deprê. Algum problema, porra?
Há tempos eu pensava em comprar um álbum. Tanto tempo que tive que comprar dois. Não para fotos de viagem, que essas a gente sempre dá um jeito de arrumar. Mas quando você passa boa parte da vida cobrindo shows e festivais, como eu passo, pode acabar juntando uma quantidade assombrosa de papel e plástico. Bilhetes e credenciais. Algumas fotos e autógrafos. Guardava essas coisas em pastas e sacolas separadas, tudo jogado, jogado demais para o meu alto nível de neurose (a propósito: certa vez, meu analista freudiano vinculou coleções, sobretudo de moedas, à fase anal-retentiva, mas fingi que não ouvi). Olhando aquelas pilhas disformes, eu já conseguia vislumbrar sua substância autobiográfica. Faltava pôr ordem na casa. Daí o álbum. Os álbuns.
Primeiro, espalhei pelas páginas as poucas fotos e autógrafos. O flagrante ao lado de Julio Iglesias. Na suíte imperial do Caesar Park, ele logo identificou o “roquero” contrafeito entre os repórteres que participavam de sua entrevista coletiva, em 1987. Sacaneou-me sem parar, na boa, e na hora do registro, chamou-me para o seu lado, pondo a mão no meu ombro. Eu ali, rindo amarelo. Gente fina o cara. Também foram para o primeiro álbum os garranchos de três quartos do Talking Heads: David Byrne, Tina Weymouth e Chris Frantz. Falta só o Jerry Harrison. E, em lugar de destaque, os autógrafos dos membros do Echo & The Bunnymen na excursão brasileira de 87, doados em almoço solene no Serafim por meu amigo Marcelo Larossa, baixista do Hojerizah, depois que me arrependi em público (isto é, aqui) por não ter pedido pessoalmente no camarim do Canecão.
Aí foi a vez das credenciais, uma espécie de fotobiografia na qual os cabelos minguam na mesma proporção que a gordura abunda. Dois Rock in Rios (no primeiro, eu ainda era um amador, amador que guardou aquela luvinha fosforescente), um Alternativa Nativa, seis Hollywood Rocks, cinco Free Jazzes. Fora os ingressos avulsos para esses eventos. Começa então o que considero o filé mignon do lote: os bilhetes para os shows isolados, em ordem cronológica. É que a sua fragmentação e a sua especificidade — têm nome da atração, local, data, horário — se assemelham aos espasmos da própria memória. Claro que uns e outra não casam perfeitamente. Há shows memoráveis sem o ingresso correspondente (como o do próprio Echo, talvez vítima do “seu nome está na porta”) e shows insossos eternizados em papel (os Mighty Lemon Drops, também no Canecão, a 15 de agosto de 1988, não deixaram lembrança alguma, o que talvez seja um bom negócio).
Alguns bilhetes ou credenciais para shows isolados estão associados a conquistas extrapalco; outros, a pés-na-bunda. Não vou ser besta de passar recibo. Mas a memória é implacável: se apega a e se desapega de coisas conforme suas próprias regras insondáveis. Meus álbuns parecem mais seguros e confiáveis. Inclusive por recolherem a memorabilia de shows aos quais, graças a meus chefes e/ou à providência divina, nunca tive de assistir. Estão neles, por exemplo, a credencial de papelão para o show de Rosana no Autódromo de Jacarepaguá e a patética mãozinha de borracha para o espetáculo de Cyndi Lauper no Maracanãzinho, ambas as roubadas em 1989. Além de breguíssima, como a cantora, a tal mãozinha deu trabalho para assentar entre as pranchas.
Claro, claro, estou sendo implicante. O principal ali não está nem nos shows não vistos nem nas namoradas que nunca mais quis se ver. Está nos shows, nos grandes shows evocados por quase todo pedaço de papel ou de plástico. Legião Urbana no Estádio Mané Garrincha, em Brasília, a 18 de junho de 1988, data da célebre confusão que gerou 385 atendimentos médicos, 64 ônibus depredados e 60 detenções pela PM — e encorpou a fama de incendiário de Renato Russo. Cazuza, magérrimo, todo de branco, no Canecão, a 14 de outubro de 1988, num dos shows comoventes que renderiam o álbum “O tempo não pára”. Os Paralamas do Sucesso lançando o disco “Bora Bora” para convidados, na danceteria Aeroanta, em São Paulo, a 23 de maio de 1988. Os três testemunhos na mesma página. Safra boa aquela, que, como as de alguns vinhos, melhora com o tempo.
Com o tempo, aliás, segundo álbum adentro, o gosto vai mudando lentamente. O rock continua sendo o forte, mas há ingressos para todos os Chicos e Caetanos possíveis, bem como todas as Zizis e Marisas, com jogo-de-cintura bastante para ver Leandro & Leonardo no auge do sucesso, no Canecão, a 16 de outubro de 1991. Na ocasião, seu grande fã Fernando Collor de Mello tinha pouco mais de um ano de governo pela frente. O ingresso para a mesa custava Cz$ 8.000,00. Muito? Pouco? Vá saber. Com o tempo, em direção ao presente, a maioria dos espetáculos migra de Botafogo para a Barra, ou seja, Metropolitan/ATL Hall, e para o Aterro do Flamengo, i.e., MAM, por causa do Free Jazz. Será que os meus ingressos também contam um pouco da história do showbiz no Rio?
Pretensão. Os dois álbuns, porém, servem para me proporcionar aquele orgulho de sobrevivente. Vi, ouvi, vibrei, sofri, ri, chorei, suei, peguei chuva, vivi aquelas páginas. Mesmo que isso não interesse a ninguém mais — e se você chegou até aqui interessou alguém — espero que minha filha um dia os herde — não ainda, não agora, há muitas folhas em branco — e tenha uma boa noção do que o pai dela fez com prazer para viver.
Já teve alguma professora da qual você não aguentasse mais ouvir a voz?
De professoras chatas o mundo está cheio, se você ainda não teve uma, a vida se encarregará de lhe colocar uma em seu caminho num futuro próximo.
Provavelmente, será uma senhora de muito conhecimento, colesterol elevado, tecnicas moderadas, pouca vontade e nenhum filho. Provavelmente ela lhe dará aulas de Gramática se for na escola, e (tchararn)logia se for na faculdade.
Agora, você ja teve alguma que fosse tudo isso, e um pouco mais? Eu sim. Este ano. E é com muito orgulho que lhes apresento Dona Ana Judith, professora de ciências sociais, forte candidata para os prêmios Cheira Minha Bunda Awards e Olho Da Rua do MEC 2002.
Um tipo egocêntrica, elitista e prepotente. Daquelas que você não suporta mais ter em seu campo de visão, o que dirá ouvi-la por duas horas sequenciais.
Poderia até ser perseguição se fosse uma opinião solitária. Mas ela é geral.
Odeio sua voz.
Odeio quando ela abre a boca pra falar do "povão alienado", "falta de cultura" e do seu doutorado na puta que pariu dos Estados Unidos.
Odeio quando ela abre a boca querendo dar uma de antropóloga, se referindo aos indios do Xingu, sendo que sequer pos os pés lá alguma vez.
Odeio quando ela fala que devemos nos abster dos paradigmas impostos pela sociedade e vetar o antropocentrismo existente em nós, sendo que ela é o maior das antropocentricas paradgmáticas.
Odeio quando ela diz "Anh.. aquele programa lá... como é o nome mesmo? Big Brother, é isso?"
E acima de tudo, eu odeio quando ela diz que as pessoas tem que fazer como ela e visitar exposições de arte.
Isso faz uma pessoa melhor que alguém?
O fato de você ouvir rock progressivo britanico te faz melhor que o cara ouve pagode?
O fato de você ser estudioso de René Magritte te faz melhor do que o outro que curte o grafite do cara do Espaço Hip-hop?
Não. Eu tive uma criação teoricamente mais elitizada. Minha tia é admiradora de arte e devoradora voraz de livros, o que fez com que eu tivesse um certa influência e seguisse (naquelas) seus gostos.
Mas não sou melhor que ninguém porque frequento o MAM por conta própria. É um interesse pessoal, gosto não induzido, natural, facultativo, que supre minhas curiosidades, de certo modo me traz prazer, acrescenta algo pelo fato de certo modo estar ligado com minha area de atuação, mas de novo repito: NÃO ME FAZ MELHOR QUE NINGUÉM, é simplesmente um gosto.
Somente neste caso esta senhora tropeçou e caiu de boca em duas de suas proprias crenças. Se submeteu ao antropocentrismo ao ignorar a cultura popular, e caiu no paradigma mais tosco da sociedade: "Exposição de arte é cultura. E só."
Parece que os valores do seu diploma ofuscaram outros.
Mas espero que esteja feliz com ele. Espero que ele esteja numa bela moldura brilhante em sua parede, e que cuide bem dele.
É seu ÚNICO amigo.
Rio de Janeiro, 08/04/2002 - A empresária Marlene Matos está sofrendo graves problemas com a justiça. A APAE (Associação dos Pais e Amigos dos Excepcionais) abriu um processo contra Matos, acusando-a de explorar o trabalho e e expor ao ridículo pessoas com uma clara limitrofia. Depois de anos se dedicando à carreira de Xuxa Meneguel, a empresária mostrou interesse em agenciar e empregar o novo límitrofe da parada, Kleber sem sobrenome. Marlene Matos se defende, dizendo que está dando oportunidades a seres-humanos que normalmente seriam excluídos da sociedade. Os advogados atacam dizendo que adestrar macaco para circo não é oportunidade. É crime. Enquanto a justiça não decidir o caso, Marlene Matos será proibida de mostrar em qualquer programa o tal do moço sem sobrenome. E também já se prepara para um novo processo. A Sociedade Protetora dos Animais também já declarou que vai entrar na justiça contra a empresária pelos mesmos motivos da APAE.
Pronto. O natal chegou. Grande coisa não acham? - Tá bom seu chato, ainda faltam dois dias...
Acho que já disse aqui que odeio o natal, mas não custa nada reforçar, não é? Aliás, será que existe alguém que realmente goste de natal? Você por acaso gosta? - Deixa um comentário depois que terminar de ler o post p/ uma enquete, ok? Se não gosta, conhece alguém que goste? Eu não conheço - não vale criança, pois é óbvio que todas elas gostam.
Pensem bem. Natal só serve pra deixar todo mundo revoltado por entrar em lojas apinhadas de gente xexelenta, cheia de vendendores com espírito natalino - por espírito natalindo entenda-se níveis de falsidade, ganância e hipocrisia maximizados - fazendo de tudo para que você gaste até o último níquel de seu cartão de crédito, cheque especial mais décimo terceiro. São tão prestativos, não?
E tudo isso pra quê? Pra passar a virada do dia 24 p/ 25 de dezembro com a família, comendo rabanada, nozes e castanhas - coisas que por sinal eu odeio. Além é claro de ter que ficar com aquele sorriso amarelo pr'aquele parente falso que você odeia, mas é obrigado a tratar bem, pois é isso que diz o Manual de Boas Maneiras das Torturas Familiares - Vol. I. Falsidade pouca é bobagem...
Aliás, falsidade é o que não falta. Vai dizer que você realmente gostou daquele seu presente de amigo oculto? - Amigo oculto rende um capítulo a parte. "Ai, adorei. É muito lindo e muito útil." é o que provavelmente você vai dizer, caso ninguém tenha dito antes - isso também depende, pois já que é todo mundo falso mesmo, por que não chutar o pau da barraca e falar essa frase para cada presente detestável que você receber ? Pior do que isso só mesmo chá-de-panela...
Tem ainda aquele peru assado - ou chester, ou frango, ou leitoa ou qualquer outro tipo de animal exótico que exista -, que além de estar mal temperado, está seco de quase queimado. Ah, e o pernil? Cara, o pernil é foda. Não sei aí, mas aqui em casa já chegaram ao cúmulo de pegar o que sobrou - ou seja, quase tudo, pois sempre sobra tudo no natal. Quem é que realmente vai comer aquilo tudo ruim daquele jeito? Ah! Só agora que caiu a ficha de porque a ceia é depois da meia noite, é para que o povo faminto não se importe com o péssimo "sabor" da comida... - e congelar pra ser consumido no carnaval. Vocês leram isso? C-A-R-N-A-V-A-L!!!!!!!!!!! O tal pernil além de no dia já estar terrivelmente intragável, passará por um período em fase criostática durante alguns meses, para então no carnaval ser descongelado, aquecido e virar suculentos sanduíches de pão-de-forma com maionese. POBRE É FODA!!!!!!!!!!!
Bom, como disse, amigo oculto é um ítem que tem de ser tratado em separado. Não adianta. Se você entrou num amigo oculto não dá pra sair ileso. Sempre tem (pelo menos) um desafeto seu que vai participar - não importa se é família, escola, faculdade, trabalho ou qualquer outro ambiente -. e ele vai te tirar. A probabilidade de qual deles vai te tirar cresce exponencialmente com o ódio que você sente por ele - no caso de a raiva ser mútua, vc ainda pode elevar a função ao quadrado.
E o presente. Ah o presente... Que tal uma cesta cheia de bombons safados numa bacia que mais tarde pode vir a ser carinhosamente apelidada de macumbão? E você pensa que acabou? Claro que não! Vai ter direito ainda de todos os seus amigos, que sabem o quanto você odeia a pessoa que te tirou, rindo histericamente de sua cara enquanto você ainda posa pra foto abraçado ao seu amigo oculto. Se alguém lá em cima ainda gosta de você, nesse momento o filme da máquina terá acabado.
Eu acho que o natal deveria mudar o slogan. Em vez de ser época de reflexões, perdão e família devia ser cara-de-pau, hipocrisia e desafetos - vai dizer que não combina mais? Quer cara-de-pau maior do que "caixinhas" de natal e aqueles malditos envelopinhos de Feliz Natal e Próspero Ano Novo que o cara que vende gás, o entregador de revista, o jornaleiro, o lixeiro, o carteiro e muitos outros eiros deixam na caixa de correio para na semana seguinte pegar de volta com uma contribuição? Só perde mesmo para o McDia Feliz...
Nunca dormi agarrada a uma garrafa de vodka barata em uma esquina qualquer, nunca morei sozinha e nunca esqueci dos acontecimentos da noite anterior. Caracas, eu sou careta pra cacete. Tão ou mais careta que minha própria avó, se é que isso é possível. Meu ato mais audacioso até hoje foi nadar no corrégo Aricanduva em dia de tempestade.
Sim, nadei. Na verdade, nadamos. Mais uma vez minha cara amiga MacBeth se faz presente em uma grande e impagável aventura. Acompanhe o diálogo travado via telefone em uma monótona tarde de domingo:
- Pô, Lady... Não aguento mais assistir o Gugu Liberato mostrando crianças doentes só para arrancar lágrimas do telespectador.
- Alguma sugestão, Van?
- Notou que está chovendo às picas?
- Notei. São Paulo está submersa.
- Vamos nadar no Aricanduva?
- Demorô. E lá fomos nós. Levei minhas bóias de braço e Lady levou sua inseparável câmara de pneu de caminhão. Arrancamos as roupas e saltamos no meio da correnteza. Belo passeio, pela paisagem. Verdadeira delícia refrescante para dias abafados. Ratos mortos passando, pedaços de telha Brasilit e as tábuas dos barracos descendo rio abaixo. Em meio à calmaria da excursão, ouvimos o barulho de um helicóptero que insistia em rodear nossa área. Minha amiga olhou para cima e exclamou:
- O Robocop, Van!
- Que mané Robocop, Lady! É o Globocop!
- Ah é... E o Globocop passou horas nos filmando e exibindo tudo ao vivo no Domingão do Faustão. O gordo recebeu Marlene Mattos no palco em caráter de urgência e a moça fez um apelo ao vivo para que nossas famílias entrassem em contato com o programa: queriam nos contratar. Os índices de audiência nunca haviam sido tão altos e tudo se devia às duas bundas brancas flutuando no meio da enchente.
Assim que as águas baixaram, o helicóptero pousou em plena avenida e nos levou peladas direto para o palco do Domingão. Assinamos o contrato sob palmas e lágrimas emocionadas da platéia. O Brasil parou extasiado.
O desfecho da história todos já conhecem: somos as ilustres apresentadoras do programa Gente na Enchente, de segunda à sexta nas tardes globais. Na gravação de ontem Lady degolou Clodovil Hernandez diante de um auditório estupefato, mas o episódio ainda não foi ao ar. Somos um sucesso.
Xak significa Asas num morto idioma pré sumeriano. A acolhedora noite. O arauto da morte.
"Tive um melhor amigo quando era pequeno. Lembro-me detalhadamente dele. Seus olhos eram claros, de um tom de verde que não se vê mais hoje em dia. Seus cabelos negros e encaracolados serviam de moldura para um sorriso que me levava ao êxtase. Ele foi meu primeiro e grande amor. Mas ele morreu. Me disseram que ele se tornou meu anjo, e que sempre me seguiria para onde quer que eu fosse. Nunca me esqueci disso. Nunca me esqueci dele. Só não consigo me lembrar de seu nome."
Fora um sonho ou um rápido passar de pensamentos que lhe trouxe essa lembrança, tão amarrada em seu passado? Não conseguia distinguir. Ultimamente tinha dormido pouco, logo tudo parecia uma sonâmbula e incessante vigília. Olhava para a pilha de corpos. O ar esfriou delicadamente, soprando em seu braço um leve calafrio, que percorreu a espinha e atravessou as costas, irradiando-se pela grande marca que havia em seus ombros. Asas. Escuras, disformes. Asas negras.
"Após sua morte, minha infância lentamente dissipou-se. Meus pedaços vagam espalhados, e sei que não sou ainda o que devo ser. Apenas aguardo por uma explosão de dor que me trará para fora do escuro".
Um quarto de adolescente na Tailândia é basicamente igual a um quarto de adolescente no Brasil. Os ídolos em sua maioria são os mesmos. A Coca-Cola, a Levi’s, a Gap, o boné são os mesmos. A MTV e o Mc Donalds são os mesmos. A música que se ouve, em todas as Fms, são impostas pela mesma cultura. Canta-se em inglês ou tenta-se criar uma imitação mal feita do que é cantado em inglês. O jovem quer naturalmente se diferenciar - é coisa da idade. E os Estados Unidos (ou, em termos de música, a Inglaterra - que sonha em conquistar os EUA nessa específica área), vendem a diferença. Abrem ligeiramente a cerca e jogam o alimento. Você pode escolher sua atitude, sua “cena”: ser pop, alternativo, clubber, revoltado, indie, blasé - dentro das escolhas que são cuidadosamente impostas. Strokes, U2, N’synk, Gorillaz, Radiohead, Britney Spears. Tudo o que aparece de novo, há dezenas de anos, aparece em inglês - aparece exatamente do mesmo lugar. Não questiono a qualidade da cultura, questiono a procedência. Será que é só isso? Será que realmente existe livre arbítrio sobre a cultura que temos? O alimento nos é gentilmente oferecido. Não é preciso buscar por ele. Os donos da cultura dizem que vendem atitudes diferentes. 300 milhões de pessoas acreditam que estão fazendo escolhas modernas, inovadoras. Acreditam que de fato estão escolhendo.
E o quarto de um adolescente na Tailândia continua decorado com os mesmos ídolos de um quarto de adolescente no Brasil.
E a cerca continua lá. Limitando um gado acostumado, domado, conformado - que não percebe que tem forças para derrubá-la e enxergar um novo horizonte.
Bem que eu tento, mas não encontro concentração para escrever algo que preste. Cabeça completamente oca, reflexo do meu constante desencanto com a vida adulta. Diante de tal situação muitas pessoas tendem ao escapismo e passam a falar, com indisfarçável nostalgia, sobre os despreocupados e felizes tempos de criança. Tá certo que eu não era um fedelho muito animado – ninguém em sã consciência me chamaria para estrelar um comercial dos esfuziantes bichinhos Parmalat – mas penso que é uma boa tática para se adotar. Claro que nem tudo foi um passeio no parque, por isso planejo criar uma infância idealizada e esquecer os dilemas escolares que torturavam minha mente:
Logo no Jardim de Infância ganhei um dente bambo e aprendi uma lição: brigar com alguém maior que você é uma tremenda podre. Também vivi a angústia de esperar que, a qualquer momento, surja aquele garoto mais velho que insiste em te extorquir na hora do recreio. Dotado de apurado instinto de sobrevivência, sempre evitava locais desertos onde a corriola dos mais velhos pudesse me pegar na porrada. Uma dica valiosa e uma constatação: banheiros de colégio, além de infectos, são ótimos locais para emboscadas; soco no estômago dói pra burro. O desafio de imaginar novas desculpas para escapar do odiado vôlei durante as aulas de Educação Física. Após o inevitável fracasso na tentativa de me tornar invisível, ser chamado ao quadro pelo professor de Matemática para resolver uma equação cuja fórmula nem imagino. Amor platônico pela menina mais bonita (não era ruiva!) da classe e que nem sabia que eu existia. E nem preciso citar a constante ameaça à minha dignidade representada por peças de teatro, festas juninas, amigos ocultos...
Pressinto que será trabalhoso substituir tudo isto por memórias mais edificantes.
Limpar o HD é, definitivamente, a versão moderna de limpar as gavetas. Digo isso pois hoje estava esvaziando meu HD, para fazer back-up dos arquivos importantes e, posteriormente, formatá-lo para instalar o tal Windows XP.
E, nesta atividade, ao invés de reencontrar antigos objetos da infância, cartas anacrônicas de amores que se foram, lembranças de velhos amigos, enfim, despojos de épocas passadas, como acontece quando esvaziamos gavetas, deparei-me com um amontoado de zeros e uns, os quais, na forma de pixels em meu monitor, trouxeram, de certa forma, as mesmas lembranças de outrora. Claro, não tão remotas, afinal só tenho computador há cerca de 10 anos, e talvez não tão nostálgicas, mas que, ainda assim, reavivaram momentos que a minha inconseqüente memória já tinha jogado na vala comum do esquecimento há tempos.
E o esquecimento, definitivamente, não é seletivo. Esquecemos, com a mesma leviandade, tanto bobagens quanto coisas importantíssimas. Uma verdadeira loteria.
Dentre as bobagens que já não lembrava, está uma aposta que fiz, uma vez, com uma amiga. Não lembro o contexto mas, certa vez, comentei com ela que gostava tanto de frio que já havia me jogado, apenas de calção, numa pilha de neve. Ela duvidou, e apostou um CD como não era verdade. Felizmente, para mim, havia esta foto, a qual acabei de encontrar perdida no meu HD, que demonstrava o fato. Ganhei um belíssimo CD do Sonny Rollins, dos meus preferidos até hoje.
Ah, sim, você deve estar se perguntando: o que eu estava fazendo, de calção laranja, numa pilha de neve? Bem, sinceramente não lembro, mas confesso que, realmente, foi algo bastante imbecil.
Mas, se formos novamente vasculhar a memória, quantas coisas imbecis já não fizemos, e não tivemos sequer um CD de prêmio para nos consolar? Ou, pior, que nos causaram perdas que lamentamos até os dias de hoje?
Perdas essas, de fato, muito difíceis de esquecer....
O insano é aquela hora em que a minha vista se turva. E eu perco a noção. A sanidade se esvai do meu corpo como um último suspiro vivo no corpo de um atropelado. Me esqueço de tudo.
O involuntário é quando o meu corpo, já insano, não entende mais as proporções. Não sabe mais para que lado jogar as mãos ou o que fazer com o cabelo. Meus gestos passam a ser involuntários e as frases também. Como numa música sertaneja de letra óbvia, é como se eu não mandasse mais em mim. Penso em almofadas amarelas, bicicletas e em qualquer cd do Pixies ou Radiohead e na felicidade eterna.
Os verbos saem quando a insanidade passa a ter nome, e o involuntário ganha vida. Só quero verbo, só quero ações.
Só
quero
sentir
estar
parecer
olhar
pensar
morrer.
É só isso o que acontece. Só. festinha dentro de mim.
Você me diz que sou muito novo...eu prefiro dizer que sou precoce.
Você me diz que te deixo sem ar...prefiro dizer que te surpreendo.
Você me diz que sou louco...prefiro dizer que vivo intensamente.
Você diz que me ama...eu prefiro não saber até quando.
Terça-feira, Novembro 06, 2001
-Ghost Children 3:52 AM -
Já faz tempo...mas foi a partir daqui que eu comecei a procurar outros textos...
I can’t see until see your eyes
Eu queria ser maldita. Mas eu sou uma filha da puta sortuda.
Queria ter que escrever três páginas por dia para a dona da pensão não me expulsar, que nem o Leonard Cohen. Queria ter que comer migalhas e contar que uma puta me deixou ficar na casa dela uma vez. My name is Jane and I'm an addict. Queria ter que escrever em folhas de papel de pão de meio quilo. Queria ser junkie, junkie de verdade, queria ter os braços cheios de abcessos. Mas não. Eu trabalho e tenho a pele lisinha e dinheiro e pessoas a quem recorrer e tento ser sã e equilibrada.
Quero ser homeless. Quero morrer junkie aos 23 anos. Quero ser podre. Quero apodrecer viva. Podridão é inerente. Inevitável. Todo mundo tenta esconder a podridão com banhos e sabonetes e perfumes e clareamento de dentes. Dentes. Dentes podres, todo mundo sorri com dentes branquinhos mas são podres por dentro. Quanto mais brancos, mais podres. Quanto mais artificiais, mas ocas. Pessoas sem dentes são legais.
Quero ser puta e vender minhas carnes. Corpos são montes de carne, sacos de pele e ossos cheios de bichinhos que a gente nem vê e que passam o dia caminhando e nos comendo. Corpos só pesam. Almas são livres e hippies. Leves e de vestidos esvoaçantes. Não quero mais meu corpo. Não quero mais ter carnes. Não quero mais ter corpo.
Queria que não gostassem de mim. Queria que me jogassem tomates e repolhos e que eu fosse enforcada em praça pública. Queria ser maldita e suja e poder ser insana em paz. Poder deixar meus cabelos desgrenharem e ficarem iguais aos da Josefina, minha primeira boneca que tinha um black power.
Queria ter virado uma esquina diferente e não saber o que é isso que você me deu, essa pedrinha que brilha muito. Voltar no tempo, queria voltar no tempo. Pra que começar se não vai terminar? Queria voltar no tempo.
Jesus não salva. Jesus não vai voltar. Jesus tem um programa na tv. Jesus era negro. Jesus escreveu um cheque em branco. Jesus está invisível no icq. Jesus é um gênio surdo, mudo e analfabeto.
Não tem sol. É frio. É duro, é amargo. Olha e não quer ver. Não quer ver mesmo. Nem ouvir, nem explicar, nem nada. Não quer. Não pode. Não vai.
Queria não saber. Queria não conhecer. Burra, queria ser burra. Queria ser burra e sã. Sã. Queria ser sã. Queria ser sã e burra e não chorar. Chorar é coisa de mariquinhas. Eu sou mariquinhas. Chorona.
Queria acordar e te contar meu sonho e ouvir o teu. Queria chorar muito no teu ombro. Queria poder te contar tudo que caminha dentro da minha cabeça.
Não quer ouvir, não quer ver, não quer explicar. Não vai, não pode, não quer.
Eu não vou continuar tentando. Não vou. Desisti.
Queria ser ontem. Semana passada. Mês passado. Hoje não. Hoje nunca. Mas ontem passou. E amanhã ainda não chegou.
Um dia chega. Agora chega.
Desde que eu comecei a ler blogs, percebi que muita coisa boa vem sendo escrita, algumas até muito melhores do que se lê por aí nos jornais e revistas e outras que simplismente nasceram de um momento único de inspiração, ou seja lá o que for... Mas antes que me malhem, isso não significa que eu adore todos eles e que não tenha senso crítico suficiente pra admitir que em sua grande maioria eles são muito ruins - até porque, é impossivel conhecer todos. Mas o engraçado, é que nessa minha peregrinação encontrei blogs que citavam outros, só que dando um enfoque maior no que há de pior. E como de coisa ruim o Brasil anda cheio, isso aqui vai ser uma espécie de clipping do que EU achar de melhor por aí - não necessariamente só blogs.
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